Já fazem 35 anos desde que, pela primeira vez, terminei um curso completo de esperanto – a leitura do Esperanto sem Mestre – e tive minha primeira conversação. A partir de então, depois de centenas de livros, depois de centenas de contatos com pessoas de todo o mundo, depois de intensa atuação no movimento esperantista, um amigo me fez uma pergunta: valeu a pena investir tanto tempo e dinheiro nisso? Vou dar minha resposta no restante deste post.

O esperanto funciona como segunda língua ou como língua auxiliar na comunicação internacional há 140 anos. Os incrédulos podem visitar o YouTube e encontrar milhares de pessoas de países diversos conversando umas com as outras em esperanto, em igualdade de condições políticas. Nenhuma vantagem de um falante em relação a outro. Mas esse motivo político, que talvez seja o mais importante, não é, para mim, a razão de ter sido um ótimo investimento aprender esperanto.
É por um outro motivo, e mais concreto, que o esperanto valeu a pena para mim: as habilidades linguísticas que ele me proporcionou. Em poucas horas de aprendizado – eu diria até em poucos minutos – já era possível ver com clareza como uma língua funciona. Não o esperanto, mas qualquer língua. A extrema simplicidade e a regularidade do esperanto chegam ao núcleo da ideia do que é de fato uma língua, e o que significa falar uma língua que não a própria. Essas duas experiências – a percepção intelectual do que seja uma língua e a vivência de falar outra língua – são definitivamente poderosas. A partir delas, meu mundo linguístico nunca mais foi o mesmo.
Assim como nadar, andar de bicicleta ou aprender desenho de observação, o esperanto proporciona acesso à habilidade de falar outra língua. É uma ferramenta propedêutica de primeira linha, agindo como um flash ou percepção súbita de como as coisas funcionam.
Nenhuma outra língua me permitiu o acesso a essa habilidade natural de maneira tão direta quanto o esperanto. Isso porque, simplesmente, línguas naturais são selvas de irregularidades, exceções, modos de falar e de se expressar particulares que apenas o nativo conhece em profundidade, o que dá ao nativo, durante uma conversa, uma vantagem esmagadora em relação ao não nativo. O esperanto permite a criação dessas expressões in loco, na hora da fala, e ainda ser compreendido sem o menor problema. Em verdade, é um prazer ver e ouvir essa criação espontânea, expressiva e criativa a cada novo contato, o que definitivamente não ocorre quando falo em inglês.
Outra constatação empírica conta a favor do esperanto, algo que aconteceu comigo e com quase todo mundo que conheço no ramo: um esperantista médio acaba aprendendo muito mais línguas do que outras pessoas, simplesmente porque ele agora sabe como se portar em relação a elas. E aprende rápido e com segurança. Só quem passou por essa experiência vai entender do que estou falando.
Existem outros motivos para se aprender esperanto. Entre eles, o social, o político e até o econômico. Mas esses serão temas de outras postagens. Por ora, mate sua curiosidade sobre o esperanto nessa página.